De Miss Israel a militar, quem é Gal Gadot, a nova Mulher-Maravilha
Quando Gal Gadot foi anunciada como a Mulher-Maravilha, no já distante ano de 2013, não foram poucos os fãs descontentes --quem era aquela atriz? Ela era muito magra! Ela não tinha músculos suficientes! Ela tinha peitos muito pequenos-- todas reclamações muito preocupadas com a essência da personagem…
Corta para 2017. Depois de assistir a “Mulher-Maravilha”, que estreia na quinta-feira (1º), dificilmente alguém vai sair do cinema sem estar convencido de que era impossível encontrar uma atriz mais perfeita para o papel. A não ser que você seja de um país que está oficialmente em guerra com Israel, país de origem de Gadot.
Foi o caso de um grupo libanês chamado Boicote aos Apoiadores de Israel, que conseguiu pressionar o Ministério da Economia do Líbano, país que há anos está em conflito com Israel, a banir "Mulher-Maravilha" das salas de cinema apenas duas horas antes das primeiras exibições programadas. O motivo: o fato de a protagonista não só ser israelense como também ter servido no exército por dois anos depois de terminar a escola, o que é o obrigatório para homens e mulheres no país.
Maravilha dentro e fora da tela
Provavelmente a diretora Patty Jenkins não contava com esse revés, mas em conversa com um grupo de jornalistas da qual o UOL participou, antes do banimento, ela demonstrou estar completamente satisfeita com sua protagonista. E um dos principais motivos para isso é o fato de que a atriz de 32 anos é ela própria muito parecida com Diana Prince. Não que ela ande por aí empunhando um escudo ou um laço da verdade, mas sua positividade, animação e dedicação não fariam feio nas páginas de uma história em quadrinho.
A Mulher-Maravilha que Jenkins idealizava trazia em si essa esperança inesgotável de uma semi-deusa que acredita na humanidade acima de qualquer coisa. Tanto que deixa a mítica ilha das Amazonas, onde vive, para ajudar a por um fim na carnificina da Primeira Guerra Mundial.
“Todos os instintos inconscientes da Gal vão na mesma direção. Ela é realmente muito gentil, aberta e inclusiva, mas isso não vem de uma ignorância. Ela compreende tudo, mas escolhe todos os dias permanecer naquele tipo de estado mental”, elogia Jenkins. “Ela tem plena consciência de tudo, não é delicada e frágil, e é muito gentil, engraçada e divertida. Foi uma Mulher-Maravilha especialmente maravilhosa para nós”.
Modesta, Gadot diz que seria esquisito concordar com a comparação da diretora, e limita-se a explicar que o processo de fazer um filme dessa escala acabou sendo mais fácil porque elas se conectaram também em um nível pessoal --os maridos das duas se tornaram amigos e os filhos brincam juntos.
Ainda que não seja propriamente uma heroína, Gadot mostra que está 100% comprometida com esta que é sua primeira protagonista. Ela pegou a estrada para promover o filme apenas dois meses depois de dar à luz sua segunda filha, que nasceu em março, e não se deixou abater nem por uma lesão nas costas, que a tem obrigado a dar entrevistas em pé e viajar de avião deitada.
Miss Israel e serviço militar
Ironicamente, a atriz não era grande fã da heroína quando era criança, o que rendeu uma conversa engraçada com Zack Snyder, quando o cineasta a chamou para um teste de um papel que ela nem sabia ainda qual seria. “Ele me disse: ‘Não sei se você conhece uma personagem chamada Mulher-Maravilha, se tinha isso em Israel…’”, contou Gadot, aos risos, em uma entrevista recente na TV americana.
Seu percurso também não é dos mais comuns no show-business. Mais ou menos na mesma época em que serviu o exército, a filha de uma professora e um engenheiro foi eleita Miss Israel 2004 e começou a fazer trabalhos de modelo, ao mesmo tempo em que estudava direito e relações internacionais. O trabalho de modelo chamou a atenção de um diretor de elenco de “007 - Quantum of Solace”, mas sua reação inicial foi de se achar “séria e inteligente demais” para ser uma Bond Girl.
Ela acabou mudando de ideia e fez o teste para o papel, que ficou com a ucraniana Olga Kurylenko. Mas a experiência levou Gadot a começar a fazer aulas de atuação e a largar a faculdade, depois de conseguir seu primeiro papel em uma série de TV israelense. E foi o mesmo diretor de elenco de “007” que a chamou para viver Gisele na franquia "Velozes e Furiosos".
Curiosamente, a experiência no exército israelense também contou em seu primeiro papel em uma grande produção, em 2008: Gadot conta que o diretor Justin Lin, de "Velozes 4", ficou impressionado com sua habilidade com as armas, e ela também fez a maior parte de suas cenas de ação nos três filmes da franquia dos quais participou.
Responsabilidade
Mas se a vida de Gadot parece distante para a maioria das mulheres, ela mantém um lado com os pés bem fincados no chão, e foge da loucura de Hollywood estando sempre próxima da família --o marido Yaron Versano e as filhas Alma, 5, e Maya, de dois meses-- que se mudou recentemente para Los Angeles, onde a caçula nasceu, em março.
Quando questionada sobre os desafios de ser mulher hoje, sua resposta não é muito diferente da de qualquer uma de nós. “Ser uma mulher hoje é uma coisa muito complicada. Somos pressionadas a ser as melhores mães e melhores esposas, a comandar a casa, a ser a melhor profissional e a ter uma carreira... São muitas responsabilidades que temos que assumir, é muito exaustivo”.
Some-se a isso a responsabilidade de interpretar uma personagem tão icônica, e temos uma bela carga. “Eu me preparei por cinco ou seis meses antes do filme, malhava duas horas por dia, mais duas horas de artes marciais e uma hora e meia de equitação todos os dias. Foi exaustivo, mas eu sentia que tinha uma grande responsabilidade com essa personagem. Ela é tão marcante, é a mais poderosa. Poder e força são coisas que você não consegue fingir. Se você é fraco, não vai conseguir enganar. Eu me sentia acabada enquanto estava treinando e foi realmente exaustivo. Mas valeu a pena”.
Gadot também diz estar preparada para se tornar um modelo para milhões de meninas do mundo todo. “Acho que tenho que estar!”, comenta, rindo. “Nunca tive a intenção de ser modelo para ninguém, mas se tiver essa oportunidade, acho que é uma coisa muito importante e deve ser tratada com muita responsabilidade. Sei que consigo fazer isso, mas sinto que é mais um efeito colateral do que a razão para estar aqui”.
E que tipo de modelo ela deve ser? “Sempre tratei as pessoas de igual para igual, independente de serem hierarquicamente inferiores ou superiores a mim. Como diz o filme, o que importa não é o que as pessoas merecem, é o que você acredita. Se tivermos essa força interior, se conseguirmos colocar de lado o cinismo e a ideia de olho por olho, e tentarmos ser melhores, tentarmos fazer aquilo que acreditamos, então vamos ter um mundo melhor”, acredita.
De qualquer maneira, ela entende que viver a Mulher-Maravilha é algo que extrapola a própria atriz. “Tive alguns momentos [durante as filmagens] em que senti que era algo maior do que eu, que não era nem um pouco sobre mim, eu sou apenas o veículo. Um deles foi quando entrei pela primeira vez na ‘terra de ninguém’ [entre as trincheiras dos ingleses e dos alemães na Primeira Guerra], revelando quem eu sou. Filmamos de uma vez só e me senti muito poderosa”.
Outro momento em que o simbolismo do que a Mulher-Maravilha representa acertou Gadot em cheio foi a primeira prova do traje da heroína. “A primeira vez em que experimentei o traje foi para 'Batman vs Superman'. Eles me contaram que eu tinha conseguido o papel e um dia depois eu tinha que voar para Michigan para experimentar a roupa. Não era do meu tamanho, era muito apertado, mas foi uma experiência extra corpórea”, conta. “É muito estranho! De repente eles te vestem e você se torna a Mulher-Maravilha. Um minuto antes eu era apenas a Gal, e agora sou a Mulher-Maravilha. É muito louco”.
No fim das contas, a atriz se sente muito sortuda de ter demorado tanto tempo para a heroína chegar à tela grande, o que lhe deu a oportunidade de interpretá-la. “Estou feliz de finalmente estar acontecendo, e de eu ser a pessoa que vai contar essa história”, diz.
“Sendo mãe de duas meninas, estou muito animada que finalmente esteja acontecendo”, comenta. “É muito importante que elas finalmente tenham uma figura feminina forte para servir de modelo. Não só para as meninas, mas também para os meninos. Falamos sobre empoderamento das mulheres o tempo todo, mas não podemos empoderar as mulheres sem educar os homens. Precisamos ser inclusivos. E espero que tenhamos cada vez mais figuras femininas fortes”, conclui.
* A jornalista viajou a convite da Warner Bros.
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