Presidente do júri do 59º Festival de Berlim, que começa hoje com o filme "Trama International", de Tom Tykwer, a atriz escocesa Tilda Swinton tem uma longa relação com o evento. Ela estreou no cinema em "Caravaggio", de Derek Jarman, que participou da mostra competitiva de 1986 e ganhou o Urso de Prata.
Desde então, esteve em 14 filmes que participaram do festival, incluindo vários concorrentes ao Urso de Ouro, como "Julia" (2008), de Eric Zonca; "Thumbsucker" (2005) de Mike Mills, e "Adaptação" (2003), de Spike Jonze. Também frequenta com regularidade as seções paralelas Panorama e Fórum.
Na entrevista coletiva de apresentação do júri da mostra competitiva, Swinton não economizou o verbo para mostrar a que veio. Ela foi enfática ao esclarecer que tipo de crise a interessa discutir a partir dos filmes selecionados. "Estou mais interessada no que acontece em Gaza", disse ela, ao responder a uma pergunta sobre o impacto dos acontecimentos atuais na seleção oficial. "Não é a crise financeira que eu pretendo encontrar nesses filmes."
Thriller sobre bancos abre Festival de Cinema de Berlim Cinéfilos viram a noite na fila para comprar entradas "Central do Brasil" foi destaque em 1998; reveja a participação brasileira em Berlim "Tropa de Elite" ganhou o Urso de Ouro em 2008; veja lista dos dez últimos vencedoresA atriz e o escritor sueco Henning Menkell, que integra o júri juntamente com a diretora espanhola Isabel Coixet, o diretor Gaston Kaboré, de Burkina Faso, o diretor alemão Christoph Schlingensief, o diretor sino-americano Wayne Wang e a escritora e gastronôma americana Alice Waters, foram os mais intensos em suas falas.
Menkell, conhecido pelos livros de mistério protagonizados pelo inspetor Wallander, disse que "tudo o que acontece no mundo afeta os artistas". O escritor continuou o raciocínio mais adiante, ao responder mais uma pergunta sobre a crise. "O grande problema do mundo hoje é que muitos dos dilemas que vivemos são completamente desnecessários", disse. E exemplificou: "Algumas doenças que ameaçam a população africana, por exemplo, não seriam problema se os grandes nomes da indústria farmacêutica não pensassem só no lucro."
O cineasta sino-americano Wayne Wang levantou uma questão que teve bastante impacto: a da democratização das câmeras de cinema. "Existem câmeras pequenas e acessíveis para qualquer um", disse ele. "Não há mais desculpas, as pessoas podem contar suas histórias. O grande problema é como fazer o público ter acesso a elas, sem ter que necessariamente passar ou pelo cinema convencional, que vai continuar existindo, ou pelo YouTube. É preciso uma alternativa para isso."
Para Swinton, essa é uma questão complexa. "O cinema, como o conhecemos, não vai morrer", disse ao final da coletiva. "Mas é preciso que todos os setores se preocupem também em educar o fã de cinema. Os distribuidores e também vocês jornalistas são responsáveis por mostrar ao público que vale a pena ver um determinado filme de arte, além dos grandes filmes comerciais."