Por Rina Chandran
MUMBAI - Dezenas de moradores de uma favela de Mumbai onde parte das filmagens de "Quem quer ser um milionário?" foram feitas protestaram contra o filme na terça-feira, soltando palavras de ordem e atirando sapatos contra fotos do elenco e da equipe que produziu o filme.
O sucesso internacional do filme despertou objeções na Índia, onde o título da obra foi considerado ofensivo. Muitos indianos também acham que o retrato dos indianos pobres não foi justo.
O filme, dirigido por Danny Boyle, foi acusado por parte da mídia indiana de ser um "pornô da pobreza". Boyle afirmou que tentou mostrar "a luxúria pela vida" dos moradores de Mumbai. "Quem quer ser um milionário?", que conquistou vários prêmios e foi indicado a 10 categorias do Oscar, estreou nos cinemas indianos no mês passado.
"Eles zombaram da gente, eles nos magoaram", disse N.R. Paul, que participou do protesto e mora em Dharavi, a maior favela da Ásia. Os manifestantes, forçados pelos policiais a se concentrar a apenas alguns metros da favela, gritavam "Abaixo Danny Boyle!" e "Abaixo o Comitê Censor!"
"Os moradores de favelas são seres humanos, não cachorros", dizia um dos cartazes. O título do filme em inglês -- como foi lançado na Índia -- é "Slumdog Millionaire".
Os manifestantes também disseram que o retrato da pobreza feito pelo filme é degradante para milhões de pessoas. "Eles podiam mudar pelo menos o título. Por que o Comitê Censor permitiu um título desses na Índia? É muito triste", disse Kallubhai Qureshi, também morador de Dharavi.
Outro manifestante, Nicholas Almeida, ativista social e morador da favela, fez uma reclamação formal contra o título numa corte local. Para ele, os produtores de "Quem quer ser um milionário?" devem às favelas onde filmaram.
"Eles estão lucrando milhões de dólares. Por que não gastam parte deste dinheiro aqui, melhorando as nossas vidas?", disse Almeida.
Boyle e o produtor Christian Colson rebateram, no jornal Daily Telegraph, a acusação de que as crianças faveladas que aparecem no filme foram mal pagas. Eles afirmaram que pagaram para que fossem à escola e montaram um fundo para cobrir outras despesas destas crianças.