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Scarlett Johansson vive alienígena canibal em filme vaiado em Veneza

Neusa Barbosa

Do UOL, de Veneza (Itália)

03/09/2013 11h00

"Ela não é uma pessoa, é parte de uma entidade. Assim, foi difícil, no começo, achar essa performance. Precisei abandonar qualquer julgamento, já que ela não tem qualquer intenção má. Eu precisava me despojar, a partir de um ponto de partida muito vago”. Foi assim que a atriz norte-americana Scarlett Johansson descreveu sua personagem, uma alienígena canibal, de cabelos curtos e pretos, em “Under the Skin”, concorrente britânico ao Leão de Ouro, dirigido por Jonathan Glazer, na coletiva do filme. Exibida na manhã desta terça-feira (3) no Festival de Veneza, a produção foi vaiada nas duas sessões de imprensa, o primeiro concorrente a despertar esta reação.

As vaias, no entanto, não foram comentadas na coletiva, em que o diretor inglês, conhecido por “Reencarnação” (2006), com Nicole Kidman, explicou as opções responsáveis pelo clima de estranheza de sua obra. Sobre sua protagonista, por exemplo, Glazer contou que chegar ao tom distanciado de interpretação visto na tela foi “uma descoberta” em comum com a atriz. “Foi uma descoberta, certamente, já que não se tratava de uma personagem, era uma coisa. Como se interpreta uma coisa?”, indagou ele.
 
Para Scarlett, que na coletiva estava com seus habituais cabelos longos e louros, até o gênero de “Under the Skin” está em aberto: “Não acho que seja mesmo um filme de ficção científica. Acho que ele não se encaixa em gêneros, suspense, terror. Também não acho que a história tenha uma moralidade específica”.
 

Fizemos seis ou sete tomadas. Uns paravam para me ajudar. Outros me fotografavam e não me ajudavam a levantar. E foi impressionante a variedade das reações das pessoas

Scarlett Johansson
Câmeras ocultas
As conversas com o diretor foram fundamentais para que Scarlett descobrisse o modo certo de interpretar sua personagem. Um ponto importante foi sua linguagem corporal, que é bastante contida. “Não eram aqueles movimentos estranhos, como num filme de Tim Burton (risos). Ao mesmo tempo, tudo o que ela faz tem um motivo. Eu precisava me ligar e desligar o tempo todo, para atender às suas necessidades”, afirmou a atriz.
 
Outro desafio para Scarlett foi realizar diversas cenas em locais públicos, como na rua, num shopping center e numa danceteria na Escócia, onde foi rodado “Under the Skin”, muitas vezes com câmeras escondidas. Uma das cenas mais difíceis, para a atriz, foi uma sequência em que ela cai na rua. “Fizemos seis ou sete tomadas. Uns paravam para me ajudar. Outros me fotografavam e não me ajudavam a levantar. E foi impressionante a variedade das reações das pessoas”, contou ela.
 
A atriz admitiu ter sentido medo por filmar assim: “Era apavorante. Ao mesmo tempo que eu me sentia protegida por toda a equipe, não sabia como as pessoas iam reagir. Mas não saber acabou me ajudando a deixar de lado meu medo, me abandonar àquela experiência. Foi uma espécie de terapia”.
 
Dentro da van que sua personagem usa o tempo todo para caçar homens sozinhos, havia oito câmeras, que fotografavam Scarlett de diversos ângulos. Segundo o diretor, isso teve como objetivo “observar o mundo como ela o vê, o mundo real, como um documentário, já que a personagem de Scarlett é a única ‘mentira’ do filme”.
 
Sotaque escocês
Indagado sobre eventuais problemas de compreensão dos diálogos que o filme pode ter pelo forte sotaque escocês de vários atores – muitos amadores –, Glazer respondeu: “O fato de que alguns diálogos possam ser incompreensíveis para alguns não me incomoda. Acho que isso serve para materializar a alienação da própria protagonista”. Um desses atores é Paul Brannigan, protagonista de “A Parte dos Anjos”, de Ken Loach, que aqui é uma das vítimas da alienígena. 
 
Indagado sobre o título, “Under the Skin”, o diretor admitiu ter pensado em mudá-lo, já que existem outros filmes com o mesmo nome, como outra produção britânica de 1997, escrita e dirigida por Carine Adler. Finalmente, Glazer achou melhor conservá-lo, por ser “o mesmo título do livro” (do autor holandês Michel Faber em que se baseia o roteiro, assinado por Glazer e Walter Campbell).