Debate sobre gênero tira foco e marca remake de "Caça-Fantasmas"
Os ataques de sexismo que a nova versão de "Caça-Fantasmas" sofreu por ter quatro mulheres nos papéis principais são, nos bastidores da produção, um assunto a se manter longe do foco da imprensa. "Este não é um filme só para mulheres. É um filme para todos os públicos", foi o mantra repetido por atrizes, produtora e equipe em geral a jornalistas do mundo todo.
O filme, que chega nesta quinta-feira (14) aos cinemas brasileiros, é estrelado por Melissa McCarty, Kristen Wiig, Leslie Jones, Kate McKinnon. Para seguir a lógica da inversão de gêneros, Chris Hemsworth aparece no papel de um secretário sexy.
A comediante Melissa McCarthy disse desconhecer as críticas dos fãs dos filmes originais à decisão do estúdio de escolher mulheres como protagonistas. "Acho que as pessoas vão sempre criticar algo que não viram, mas o que eu faço é não dar atenção a esse tipo de coisa. Se eles forem assistir, verão que é uma história super legal", disse ela ao UOL.
Leslie Jones se mostrou mais incomodada com a polêmica. Ao ser questionada sobre como o fato de as personagens serem mulheres mudava a dinâmica da história, rebateu: "Você quer saber se a gente usa bolsa e coloca maquiagem durante o filme? Porque, sério, eu odeio esse lance todo. Vai ser um filme incrível e não importa se as personagens são mulheres, homens ou crianças. Por que todo mundo fica falando disso?".
Talvez a pessoa mais habilitada a comentar sobre o assunto, o diretor do filme, Paul Feig, desabafou contando que tem “recebido tuítes inacreditáveis sobre o filme no último ano, de gente que pensa que vai ser uma comédia romântica em que as mulheres choram cada vez que quebram as unhas”.
A intervenção mais inusitada, no entanto, foi da produtora Amy Pascal. Demonstrando preocupação de que o filme pudesse ser considerado “de mulherzinha”, a executiva deu sua visão sobre os questionamentos. “Eu estou vendo que vocês estão tocando muito nesta questão de o filme ter mulheres como protagonistas, mas eu gostaria de dizer algo sobre isto. Este não é um filme só para mulheres, é um filme para todos os públicos. Ele conta a história de quatro cientistas que acreditam em algo que ninguém acredita e que lutam para provar que estão falando a verdade e mostrar seu valor”, disse Pascal.
Para quem não se lembra, Pascal era a vice-presidente da Sony Pictures durante um dos maiores escândalos de vazamentos de informações confidenciais, em 2014, quando hackers invadiram a intranet do estúdio e revelaram desde salários dos atores a intrigas de bastidores, com e-mails em que ela ironizava artistas da casa, como Angelia Jolie.
Devagar com a diversidade
De fato, em um mundo ideal, sem sexismo, a presença de quatro mulheres nos papéis principais não deveria ser uma questão a ser levantada. Acontece que ainda há muita resistência de uma parcela do público masculino no tocante à diversidade em refilmagens e adaptações para o cinema.
“Mad Max: Estrada da Fúria”, por exemplo, chegou a sofrer uma campanha de boicote por parte de um grupo de homens que não admitiam o fato de Max receber ordens da Furiosa, ou pela personagem de Charlize Theron ter tanto destaque no longa quanto o protagonista Tom Hardy.
Outro filme que sofreu críticas de fãs foi a nova versão de “O Quarteto Fantástico”, que colocou Michael B. Jordan, um ator negro, no papel do Tocha Humana. O personagem, tanto nos quadrinhos quanto na primeira adaptação, é branco.
E a polêmica se estende também para outra franquia: "007". Recentemente Pierce Brosnan, que interpretou o agente em quatro filmes, deixou os homofóbicos e racistas de cabelo em pé ao dizer que James Bond poderia muito bem ser interpretado por um ator negro ou, ainda, ser um personagem homossexual.
Sobre “As Caça-Fantasmas”, vale ressaltar que tanto na história quanto nos bastidores do filme o discurso de igualdade que a produtora prega não se aplica totalmente.
Leslie Jones, por exemplo, é a única protagonista não branca. E sua personagem também é a única da equipe que não é cientista, mas uma funcionária do metrô de Nova York que possui conhecimentos autodidatas. Ou seja, é uma personagem que reforça a ideia de que negros têm sempre profissões menos, digamos, elaboradas.
Além disso, quem recebeu tratamento de estrela nos bastidores foi Chris Hemsworth. Mesmo sendo um coadjuvante, o ator foi o único que deu entrevistas individuais, enquanto as protagonistas mulheres, ou seja, as donas da história, falaram apenas em grupo.
Será que Bill Murray e Dan Aykroid, as estrelas dos primeiros filmes que fazem pontas na nova história, receberiam o mesmo tratamento?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.