Pobreza e recessão dominam as telas no Festival de Veneza de 2013
A pobreza e os efeitos do colapso econômico de 2008 sobre as pessoas e a sociedade são os temas dominantes da 70ª edição do Festival de Cinema de Veneza, que começou na quarta-feira (28) e vai até o dia 7 de setembro.
É o caso de "Joe", drama gótico ambientado no sul dos EUA e exibido na sexta-feira, com Nicolas Cage no papel de um alcoólatra, como já havia sido em "Despedida em Las Vegas". Ou "Die Frau Des Polizisten" (A Mulher do Policial), sobre a violência doméstica.
A crise econômica influencia não só nas tramas mostradas. Na quarta-feira, o cineasta mexicano Alfoson Cuarón disse que a situação financeira dos estúdios quase inviabilizou seu "Gravidade", drama espacial de grande orçamento, que abriu o festival nesta semana.
Paul Schrader, roteirista de "Taxi Driver", "Touro Indomável" e outros sucessos dos anos 1970 e 80, disse em entrevista coletiva nesta sexta-feira que "o negócio cinematográfico está passando por uma mudança sistemática. Sistemática não, uma mudança sistêmica. Tudo o que sabemos do passado não se aplica mais", afirmou Schrader, que levou a Veneza seu "Canyons", com Lindsay Lohan.
Bebedeira e falta de higiente
Em "Joe", dirigido por David Gordon Green com base num romance homônimo de Larry Brown, Cage interpreta um homem do sul dos EUA, beberrão e esquentado, que fica amigo de um menino oriundo de um ambiente violento. A pobreza exala de cada cena, da detonada caminhonete que Joe dirige para apanhar os empregados negros que ele usa para limpar um campo, até os vizinhos dele, que moram em barracos e comem animais selvagens achados no acostamento da rodovia.
Cage elogiou a oportunidade de trabalhar com Green. "Para mim, era uma chance de voltar a uma profunda análise e construção de personagem", acrescentou o ator, que ganhou um Oscar em 1995 por "Despedida em Las Vegas". Naquele filme, em que ele interpretava um roteirista alcoólatra, ele se preparou se embebedando e vendo o resultado em vídeo. Em "Joe", ele e o garoto Tye Sheridan simularam a embriaguez girando até ficarem tontos.
Já "Die Frau Des Polizisten" mostra uma jovem família no interior alemão, cuja vida aparentemente pacata descamba para a violência. O diretor Philip Groening, do contemplativo "O Grande Silêncio", sobre monges cartuxos nos Alpes suíços, disse que os gatilhos emocionais e psicológicos da violência são o principal tema do longa, mas que a situação econômica também é vista. "Há também um aspecto de pobreza no filme", afirmou.
O filme de três horas, dividido em 59 capítulos, tem diálogos improvisados e mostra minúcias do cotidiano familiar. A violência está presente em algumas poucas cenas, mas é visível principalmente na degradação física da protagonista ao longo do filme, chegando ao ponto de negligenciar a higiene pessoal, o que é revelado numa observação cruelmente inocente da menina Clara: "Mamãe, você está fedendo".
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