Se no ano passado Cannes recebeu o argentino Diego Maradona na estreia de um documentário sobre sua carreira, neste ano o craque na Croisette é o francês Eric Cantona, ex-jogador do Manchester United. Ele é o astro e produtor de "À Procura de Eric", do inglês Ken Loach, cineasta de esquerda queridinho do festival, que ganhou a Palma de Ouro há três anos por "Ventos da Liberdade".
No filme, Eric Bishop (Steve Evets) é um carteiro de meia-idade do subúrbio de Londres que vive com seus dois afilhados. É um proletário cheio de problemas: não consegue voltar a se aproximar da primeira mulher, por quem ainda é apaixonado, e vê impotente um de seus filhos se envolver com uma gangue.
Torcedor fanático do Manchester, num lance de fantasia, um dia recebe em seu quarto a visita do grande craque Cantona, que se põe a lhe dar conselhos e destilar seus famosos provérbios: "Se uma coisa não dá certo na vida, é preciso buscar novas oportunidades"; "as melhores coisas da vida são feitas em grupo" etc. etc.
Após cinco filmes dramáticos, Loach volta a fazer um filme mais leve e engraçado, que aborda a vida dura dos proletários ingleses, mas sem pesar a mão no discurso social, amparado por um bom protagonista e uma atuação competente de Cantona. Não é filme para a Palma - falta um pouco de ambição a Loach desta vez, e sua intenção deve ter sido mesmo se divertir com o filme. Mas não deixou de ser um vento de ar fresco depois de tantos filmes pesados no festival - além de Loach, só Ang Lee apareceu até agora com um filme leve.
"A comédia não deixa de ser uma tragédia, mas com final feliz. Eu poderia ter feito mais um filme trágico, mas se você faz com verdade, tanto faz se é alegre ou triste", filosofou Loach.
Cantona, muito acostumado à imprensa, mostrou todo o seu lado "craque intelectual". Ele, que já atuou em 16 filmes, surpreendeu os jornalistas ao citar o italiano Pasolini como um de seus cineastas preferidos.
Ele também comparou o diretor Ken Loach com seu técnico no Manchester United, o holandês René Meulensteen: "Ambos são muito humildes e ao mesmo tempo tem sempre novas ambições. Meulensteen tem o talento para grandes jogadas, Loach para grandes imagens. Mas antes de tudo, ambos são grandes homens".