"Quase fui expulso do colégio por causa do cinema", diz Walter Salles
Walter Salles tinha entre 10 e 12 anos quando sua relação com o cinema ficou realmente intensa. Ele morava na França e a vida de diplomata do pai, também Walter, obrigava a família a pular de uma país para o outro. "Eu odiava o mau humor dos parisienses. Eu odiava croissant. Por isso ia ao cinema quase todos os dias. Descobri na tela que o mundo tinha mais possibilidades do que aquelas que eu conhecia", disse o cineasta no encontro com o público no projeto Filmes da Minha Vida, promovido pela Mostra de São Paulo nesta sexta-feira (25).
"Era uma experiência totalmente solitária, mas me sentia em contato com as pessoas. Solitário mesmo eu me sentia naquele apartamento, na rua", disse ele para uma plateia atenta, que lotou a sala 4 do Espaço Itaú Augusta de Cinema.
Nessa época, Waltinho, como é chamado pelos amigos, estudava em um colégio conservador. Quando voltou às aulas depois de um período de férias, o professor pediu para que os alunos fizessem uma redação sobre os dias de folga. "Fiz uma lista de filmes que tinha de neorrealismo italiano aos filmes do Godard. Quase fui expulso. Os professores diziam que eu via filmes que não deveria ver", contou ele.
A presença de Walter Salles na Mostra foi comemorada pela diretora Renata de Almeida, que contou à plateia que já havia convidado diversas vezes o cineasta para participar do projeto. "Desta vez, ele finalmente aceitou".
Salles começou o bate-papo dizendo que tem pavor de falar em público e que por isso chegou ao local preparado para enfrentar a plateia, que contava com muitos estudantes de cinema. Na mão, ele carregava diversas fichas que traziam os nomes de filmes e informações importantes sobre eles.
O diretor de "On the Road" e "Central do Brasil" mostrou também o curta-metragem que fez em comemoração aos 60 anos do Festival de Cannes. Feito sob encomenda para o evento, no curta Salles apresenta para o filho Vicente, que na época tinha apenas seis meses de vida, alguns filmes que marcaram a sua vida. Entre eles "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, "Paris, Texas", de Wim Wenders e "O Grande Ditador", de Charles Chaplin. No filme, o bebê aparece totalmente atraído pela imagem de Chaplin brincando com o globo terrestre. "Quase não deu certo. No primeiro momento, o Vicente não demonstrou nenhum interesse pela imagem, mas depois ele ficou totalmente tomado por aquilo". Hoje, seu filho tem sete anos de idade.
Ponto de virada
Salles disse que sempre há um filme que faz com que você decida ser um cineasta e isso aconteceu com ele ao 16 anos, quando viu "Profissão: Repórter", de Michelangelo Antonioni. "O filme terminou e eu não conseguia sair da cadeira. É um filme que deixa todos os sentidos livres. Acho que foi Antonioni quem melhor retratou a crise existencial pós revolução industrial. Esse filme ecoa em mim até hoje", disse.
Citando mais de 10 filmes em uma conversa que durou mais de uma hora, o cineasta diz que estava sendo injusto por deixar muitas obras de fora, mas que pôde observar que os filmes que mais marcaram sua vida são aquele que falam sobre um momento de ruptura na história e de certa forma nos personagens.
Além de falar sobre o neorrealismo italiano e a nouvelle vague francesa, o diretor também falou de filmes brasileiros, como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha. "Muitos que estavam na mesma sessão que eu choraram ao final do filme. Ao meu lado, sentou o psicanalista Hélio Pellegrino, que me disse: 'esse filme pega na jugular da brasilidade'. Isso me marcou muito".
Salles terminou o papo afirmando que não sabe muito bem o que esperar do futuro do cinema, mas que tem esperanças de que sempre haverá um ângulo diferente pelo qual a história possa ser contada. "Mesmo com um mundo tomado pela televisão e celulares, vemos produções como 'O Som ao Redor', de Kleber Mendonça Filho. O filme é um caleidoscópio de situações. Uma coisa dificílima de fazer. Esse filme me devolveu a fé no cinema", disse.
4 Comentários
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Esse Walter só não é mais chato do que seus filmes recentes. Estamos quase na metade da segunda década do século XXI e esse filhinho-de-papai supervalorizado ainda fala de Antonioni, Godard, os cineastas meia-oito que só ele e o Jabor devem reassistir. Nada contra os filmes desses cineastas, mas ainda tê-los como únicas referências é parar no tempo. Diretores novos, tanto brasileiros quanto estrangeiros surgiram e fizeram o Waltinho comer poeira e é por isso que ele prefere falar de passado. Por isso ele não cita Padilha, Meirelles, Chris Nolan, David Fincher. Melhor falar de Glauber e Chaplin. Walter parou no tempo porque foi uma promessa que não aconteceu. Seu último grande filme tem mais de dez anos. Até hoje ele vive do espólio de "Central do Brasil" trabalho que foi salvo pelo roteiro melodramático do talentoso João Emanuel Carneiro. De lá para cá, podem reparar, nada marcou.
Nasceu filho de milionário e bilionário se tornou. Tudo no brasil é fácil para quem tem dinheiro, filho de artista que consegue papel fácil na tv ganhando uma fortuna. Os únicos favelados que se dão bem são alguns jogadores de futebol, o resto somente filho de milionário que consegue algo com facilidade neste país. Vi uma reportagem que este Walter Salles está bilionário. Nunca precisou trabalhar para se sustentar, sempre viveu às custas dos pais ricos e se dedicou no que gosta sem precisar se preocupar com comida na mesa e dinheiro para pagar o ônibus. Filho de rico consegue tudo com facilidade neste país, ao contrário dos EUA que uma garçonete vira estrela de cinema. Lá, nos EUA, o ser humano nasce com direito, no brasil, o direito é apenas para os ricos. O Salles nasceu em berço de ouro, teve ajuda dos pais para fazer o que gosta e queira, dinheiro puxa dinheiro. Não sei como ele ficou bilionário com o cinema se todos os seus filmes são ruins.