Topo

Público dribla frio para ver clássico mudo alemão ao ar livre no Ibirapuera

Gabriel Mestieri

Do UOL, em São Paulo

28/10/2013 02h12

Cerca de 5 mil pessoas - segundo estimativa da organização do evento -  enfrentaram frio e distrações para assistir, na noite deste domingo (27), a uma sessão de "Nathan, o Sábio" ao ar livre no parque Ibirapuera. O filme foi exibido com trilha-sonora executada ao vivo pela Orquestra Petrobras Sinfônica, regida pelo maestro Carlos Prazeres. A trilha foi composta especialmente para o filme pelo libanês Rabih Abou-Khalil.

Lançado em 1922, o clássico do cinema mudo alemão dirigido por Manfred Noa foi dado como perdido pela humanidade. Com uma mensagem que prega a tolerância entre as religiões cristã, muçulmana e judaica, foi considerado apologia do judaísmo, e não há registros de sua exibição após a chegada de Hitler ao poder. Apenas em 1996 uma cópia do filme foi encontrada em Moscou, com outro título e com a ordem dos capítulos errada, tendo sido restaurado na Alemanha.

Quem não se preparou para o frio, entretanto, teve dificuldades para assistir à raridade. Após um dia de sol e clima ameno em São Paulo, as temperaturas baixaram, e o vento que atingia o parque causava sensação de forte frio – segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a temperatura na cidade por volta das 21h era de 17ºC.

Parte do público começou a deixar o local antes do término da exibição. Foi o caso das amigas Cássia Grabert Neves e Laura Bing, ambas de 23 anos. "Estava meio chato, o frio estava dificultando muito. Se estivesse mais quentinho...", lamentou Cássia, que deixou a sessão cerca de 20 minutos antes do filme acabar. "O filme é muito longo. Dava para ver um pouco, mas a adversidade não ajuda muito", afirmou Laura. Segundo elas, a sessão de "Nosferatu", de F.W. Murnau, exibida no mesmo local, também com orquestra, no ano passado, foi mais empolgante. "Era mais legal, mais dramático", diz Cássia.

O casal formado pelo analista de sistemas Marco Macieri e pela arquiteta Walkiria Sunagawa foi mais prevenido à sessão. Com lanches, bebidas e cobertor, resistiram bravamente não só ao frio, mas a outras distrações, como ambulantes, pessoas que falavam no celular, bebês chorando, cachorros que passavam pela área externa do Auditório Ibirapuera e até uma bateria que ensaiava no parque. "Você vê que tiveram um trabalhão para compor a trilha. Muito legal", diz Macieri sobre o fato de o filme ter sido acompanhado por uma orquestra. Entretanto, sobre o filme em si, concorda com as estudantes que foram embora mais cedo. "Gostei mais do 'Nosferatu'", diz.

Já as irmãs Renata e Rani Macedo, que não viram "Nosferatu" no ano passado, disseram ter adorado tanto o filme, quanto a experiência de vê-lo com trilha sonora executada ao vivo. "Acho que a experiência fica mais viva. O filme fica mais próximo da gente, as emoções são mais fortes", diz Rani. "É muito lindo", concorda Renata. "Minha mãe disse que quando era criança era mais comum os filmes terem música ao vivo", completa Rani.

Composta por 75 músicos, a Orquestra Petrobras Sinfônica ensaiou por uma semana para a apresentação, de acordo com o maestro Carlos Prazeres.

Para o técnico administrativo Alan Gonçalves, de 32 anos, a sincronia entre música e filme estava tão boa que dava a impressão de que o áudio era da própria produção. "A gente acabou deitando, então eu quase não via a orquestra, você perde a ideia de que tem alguém tocando e pensa que o áudio é da própria imagem", diz.

"Nathan, o Sábio" foi adaptado por Noa para o cinema a partir de um "poema dramático" de mesmo nome de Gotthold Ephrain Lessing. Não há outros filmes baseados no poema além do de Noa. O papel de Nathan é interpretado por Werner Krauss ("O Gabinete do Dr. Caligari").