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Ryan Gosling se dá mal imitando David Lynch e público debanda da sala

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

20/05/2014 11h22

O canadense Ryan Gosling está vivendo na pele a montanha-russa que é o Festival de Cannes. Em 2011, ele foi um dos nomes mais quentes do festival vivendo o motorista violento e caladão de "Drive", filme que ganhou a Palma de melhor diretor e virou cult no mundo todo. No ano passado, ele recebeu duras críticas sobre a canastrice de sua atuação no estranhíssimo "Only God Forgives", do mesmo diretor.

Neste ano, Gosling veio apresentar na mostra Un Certain Regard sua estreia na direção, "Lost River". Formou-se a maior fila de espera até agora no festival para a primeira sessão do filme, com uma multidão se acotovelando para conseguir um lugar na sala. Porém, muitos espectadores já foram saindo antes de o filme terminar. Ao final, a maioria nem esperou a última cena acabar --só eram ouvidos comentários irritados na saída.

Em "Lost River", uma mãe solteira, Billy (Christina Hendricks, a Joan de "Mad Men") cria seus dois filhos, um menino e um rapaz de cerca de 18 anos, num bairro decadente e quase deserto de Detroit. Ela trabalha num clube noturno macabro em que, junto com a personagem de Eva Mendes, faz performances bizarras envolvendo muito sangue, como furar os olhos dos espectadores ou remover o próprio rosto.

Perto desse clube bizarro há um lago artificial, e uma das personagens acredita que, no fundo desse lago, construído num lugar onde antes havia um zoológico, há uma maldição que domina a cidade.

Gosling tenta brincar de David Lynch e criar um universo estranho cujo resultado é uma grande mistura, sem força narrativa ou estética. A boate em que Billy trabalha lembra o Club Silencio de "Cidade dos Sonhos" (2001), e o casal jovem e a trilha sonora parecem saídos direto de "Twin Peaks". Há até um misterioso corredor roxo por onde passam os personagens, que lembra a sala com cortinas vermelhas da série de Lynch.

Numa cena, o malvado da cidade esfaqueia o ratinho de estimação da mocinha (Saoirse Ronan) na frente dela, numa alusão bem fraca à perda da virgindade. Em outra, um cliente bizarro simula um estupro de Billy, que está enclausurada dentro de uma redoma de plástico. Era para ser profundo, mas não é.

A sorte de Gosling é que os filmes da mostra Un Certain Regard não têm entrevista coletiva para a imprensa. Mas vai ser difícil escapar do massacre midiático mais uma vez.