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Cannes vive clima de suspense na véspera da premiação

23/05/2014 12h11

O clima era de suspense em Cannes nesta sexta-feira (23), véspera do anúncio do vencedor da Palma de Ouro e após a aparição na reta final de dois fortes competidores: "Mommy", de Xavier Dolan, de 25 anos, e "Leviathan", do russo Andrei Zvyagintsev.

Outros filmes com fortes chances de levar o prêmio, segundo os críticos de Cannes, são o drama turco "Kis Uykusu" ("Sonho de inverno"), de Nuri Bilge Ceylan, "Deux jours, une nuit", dos irmãos Dardenne, sobre a precariedade econômica, uma biografia sobre o pintor Turner, do britânico Mike Leigh, e "Timbuktu", do mauritano Abdehrrahmane Sissako.

Mas o suspense está prestes a acabar: após 12 dias de projeções, festas às margens do mar, anúncios e rumores, o júri do 67º Festival de Cannes presidido pela neozelandesa Jane Campion e integrado, entre outros, pelo mexicano Gael García Bernal, anunciará os prêmios na noite de sábado (24), depois de deliberar em um local nas alturas de Cannes mantido em segredo.

A um dia do veredicto, os críticos do mundo que viajaram a Cannes para o maior evento cinematográfico do planeta fazem suas próprias previsões, e muitos apostam em "Mommy", o filme do jovem prodígio canadense.

Dolan surpreendeu Cannes com uma produção inovadora e forte sobre a relação de uma mãe solteira com um filho com problemas emocionais, que caiu como um raio sobre este Festival.

Se Dolan conquistar a Palma de Ouro - aspirada por 18 filmes, entre eles "Adieu au langage", do octogenário Jean-Luc Godard, e "Relatos salvajes", uma comédia de humor-negro do argentino Damián Szifrón - será o segundo diretor mais jovem a receber o prêmio máximo, depois do francês Louis Malle, que levou a Palma aos 23 anos, em 1956, com "O mundo do silêncio", um documentário sobre Jean-Jacques Costeau.

A última surpresa veio da Rússia

A última surpresa da competição foi "Leviathan", de Zvyagintsev, que retorna a Cannes três anos depois de participar da sessão oficial Um Certo Olhar com "Elena".

Este drama sobre a Rússia contemporânea, rodado em uma pequena aldeia às margens do mar de Barents (norte), foi muito aplaudido na sessão reservada à imprensa, e foi classificado de obra-prima pelo crítico do jornal britânico The Guardian, Peter Bradshaw.

"Meu filme fala do que conheço, a realidade da sociedade russa contemporânea", declarou em Cannes o diretor russo de 50 anos.

Antes da chegada de "Mommy" e do filme russo à competição - que apresentou desde dramas sobre a guerra na Chechênia, como "The Search", do francês Michel Hazanavicius, com Berénice Bejo, a uma sátira das estrelas de Hollywood, de David Cronemberg, nenhum dos quais seduziu a crítica - os apontados como vencedores eram o turco "Kis Uykusu" (Sonho de Inverno), a biografia sobre Turner e o filme dos Dardenne.

Produções de Turquia, Grã-Bretanha e Bélgica entre as favoritas

O drama longo e meditativo de Ceylan, que capta a grandiosidade da paisagem do centro de Anatolia, e a produção dos Dardenne, "Deux jours, une nuit", com Marion Cotillard, lideravam nesta sexta a lista da publicação especializada Le Film Français.

Na revista Screen lidera o filme "Mr Turner", de Mike Leigh, de 77 anos, sobre o pintor britânico considerado precursor dos impressionistas, cujo protagonista, o grande Timothy Spall, mereceria levar o prêmio de melhor ator, para a publicação.

Os críticos também citam como forte concorrente "Timbuktu", no qual Sissako faz uma denúncia do obscurantismo religioso.

Visualmente muito bonito, o filme sobre a guerra santa lançada há dois anos contra a lendária cidade de Timbuktu, no norte do Mali, é uma das duas produções políticas que competem em Cannes. O outro é "Jimmy's hall", do britânico Ken Loach, que denuncia, como o de Sissako, o fundamentalismo religioso, neste caso na Irlanda nos anos 1930.

Este filme, que foi bem recebido pela crítica, não aparece nas listas de fortes concorrentes à Palma de Ouro, mas pode receber outro prêmio.

Filmes premiados não costumam ser sucesso de bilheteria

As projeções do concurso oficial serão concluídas na noite desta sexta, com "Sils Maria", do francês Olivier Assayas, com Juliette Binoche, Kristen Steward e Chloé Grace Moretz, sobre uma atriz no topo de sua carreira que enfrenta a questão da idade, e que recebeu aplausos calorosos entre a imprensa.

No entanto, seja qual for a decisão de sábado do júri de Canes, será uma que o público normalmente não costuma concordar, como se reflete nas bilheterias: o jornal Nice Matin lembrava nesta sexta-feira que "Pulp Fiction", produção com a qual Quentin Tarantino obteve a Palma de Ouro em 1994, é o único filme entre os coroadas neste Festival que também fez sucesso entre o grande público. É seguido por "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola, premiado em 1979.