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"Stanley ficaria emocionado", diz viúva de Kubrick na Mostra de São Paulo

Natália Engler

Do UOL, em São Paulo

17/10/2013 22h45

Na abertura da Mostra de Cinema de São Paulo, a viúva e o produtor de Stanley Kubrick falaram sobre a exposição da obra do cineasta, que está em cartaz no MIS (Museu da Imagem e do Som), na capital paulista. Eles lembraram histórias do diretor de filmes como "O Iluminado" e "Laranja Mecânica".

Jan Harlan, que também é cunhado de Kubrick, fez uma brincadeira, imaginando o que o cineasta diria olhando para cá "lá de cima": "Uma retrospectiva de todos os meus filmes em São Paulo? E uma mostra de todos os meus trabalhos no MIS? E a Warner Bros. e todos os estúdios me apoiando? Eu devo estar sonhando", disse.

O produtor também relembrou a primeira vez que veio ao Brasil, nos anos 1970, para lançar o filme "Barry Lindon", porque o governo militar exigia que as cópias do filme fossem feitas aqui. "Tive que rever toda a imagem que tinha do Brasil, de selva e macacos. E as etiquetas de preços pareciam números de telefone. Acho que se chamavam cruzeiros", relatou.

E encerrou dizendo: "Espero que Stanley veja isso e saiba que o seu trabalho permanece".

A alemã Christiane Kubrick, que é artista plástica e autora da pintura que está no cartaz da mostra, disse que não merece "todos esses aplausos. "Stanley ficaria emocionado, mas também ficaria horrorizado de me ver discursando", disse.

Ela lembrou de quando pintou a obra que estampa o cartaz da mostra, durante as filmagens de "Barry Lyndon" na Irlanda. "Foi maravilhoso, mas tivemos que sair correndo por causa do IRA". E contou histórias que acredita que ninguém conhece sobre a pré-produção do filme. Ao fotografar um dos lugares selecionados para as filmagens, Kubrick acabou se enroscando em urtigas e espinhos. Depois, o diretor fugiu de um touro escalando um paredão de pedras. 

"Quando chegamos em casa, ele disse que tinha que tomar um banho antes do jantar, e ele tinha hematomas e feridas por todo o corpo. Na estreia do filme, enquanto todos admiravam aquelas paisagens, ele disse em meu ouvido: 'Espero que eles adorem, poque meu sangue está por todo aquele país'".

A exposição
Desde o dia 11, o MIS  recebe mais de 500 objetos, fotos e documentos relacionados aos filmes de Stanley Kubrick em uma exposição inédita na América Latina. Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), na bilheteria, e R$ 20 pela internet (www.ingressorapido.com.br).

Organizada pelo Museu Alemão do Cinema (Deutsches Filmmuseum), pela viúva do cineasta, Christiane Kubrick, e pelo Arquivo Stanley Kubrick da Universidade de Artes de Londres, a exposição já passou por Frankfurt, Berlim, Paris e Amsterdã.
 
A primeira seção da mostra apresenta lentes originais utilizadas em seus filmes, troféus, vídeos, o primeiro curta do diretor, além de imagens capturadas entre os anos de 1945 e 1950.
 
Já a segunda seção apresenta espaços dedicados a filmes como "O Iluminado" (1980), "Lolita" (1962), "2001: Uma Odisséia no Espaço"(1968) e "Laranja Mecânica" (1971).
 
Outras seções apresentam documentos, fotografias e objetos de cena dos filmes "Napoleão" e "Aryan Papers [Documentos Arianos], projetos nunca realizados pelo diretor.
 
Ao final, o público entra em uma estação de áudio que apresenta os filmes a partir de uma perspectiva musical, permitindo observar a pesquisa minuciosa que o diretor realizava ao elaborar seus filmes.