Hollywood bateu recorde em 2013, mas não há motivos para comemorar
Hollywood vai bater recorde de bilheteria em 2013 com uma arrecadação que, até 17 de dezembro, já está US$ 2 milhões à frente da conquistada no mesmo período do ano passado. Mas pouca gente da indústria deve estar comemorando a marca de US$ 10,252 bilhões alcançada no mercado doméstico. O recorde veio a duras penas neste ano em que grandes estúdios apostaram alto em produções que acabaram naufragando --ao menos cinco filmes com orçamento acima de US$ 100 milhões deram prejuízo.
"Jack, o Caçador de Gigantes", da Warner, perdeu cerca de US$ 86 milhões do seu custo de cerca de US$ 185 milhões --na misteriosa contabilidade de Hollywood, estima-se que um filme começa a dar lucro depois de arrecadar o dobro do orçamento. A ele seguiu-se "Depois da Terra", da Sony, primeiro filme de Will Smith a não estrear em primeiro nas bilheterias e que chegou perto de um lucro: custou US$ 130 milhões e levou US$ 243,8 milhões. Já o grande desastre da Disney foi "O Cavaleiro Solitário", que não decolou apesar da presença atraente de Johnny Depp: o prejuízo foi de quase US$ 95 milhões, em cima de seu orçamento estimado em US$ 225 milhões.
Os maiores prejuízos de 2013
94,7 mi
O Cavaleiro Solitário
(Disney)
90,8 mi
R.I.P.D.
(Universal)
86,2 mi
Jack, o Caçador de Gigantes
(Warner)
47,3 mi
O Ataque
(Sony)
28,1 mi
Conexão Perigosa
(Relativity)
"O Ataque", também da Sony, que gastou US$ 150 milhões para ser produzido, mostrou que a fórmula "presidente norte-americano em perigo" está desgastada e viu um prejuízo de cerca de US$ 47 milhões. "R.I.P.D. - Agentes do Além", da Fox, que você provavelmente nem deve saber do que se trata, foi feito com US$ 130 milhões e rendeu em todo mundo pífios US$ 78 milhões.
Outras grandes produções como "Círculo de Fogo", "Elysium" e mesmo "O Homem de Aço" deram lucro, mas tiveram desempenho de bilheteria abaixo do esperado pelos estúdios. E tudo isso em apenas três meses, entre maio e julho, período considerado como a temporada quente de filmes de verão nos Estados Unidos.
É consenso entre os analistas da indústria que o engarrafamento de muitos filmes estreando praticamente ao mesmo tempo contribuiu para um desempenho mais fraco das grandes produções em 2013. Este ano, 20 dos títulos de maior bilheteria saíram durante o verão, contra nove em 2012. Os longas que não tiveram uma boa arrecadação na primeira semana de exibição tiveram poucas chances de ganhar fôlego em cartaz porque acabaram atropelados pelo próximo lançamento.
Para muitos especialistas, o mercado já não dá conta de absorver o modelo de lançamentos megalomaníacos que os estúdios criaram como resposta às novas formas de consumir filmes sem ir ao cinema. "Um super-filme-evento devora a plateia de outro super-evento. E isso acontece com filmes de ação e de animação, do mesmo modo", disse em outubro Chris Meledrandi, CEO da Illumination Entertainment, responsável por fazer uma ponte importante entre animadores europeus e o mercado internacional. Steven Spielberg e George Lucas, falando a alunos de cinema em Los Angeles, também já haviam relatado previsões pessimistas meses antes. E com razão.
Até mesmo os cinco campeões de bilheteria deste ano acabaram com menos sucesso do que seus correspondentes em 2012. Basta comparar:
1º lugar: "O Homem de Ferro 3" alcançou a marca de US$ 1,2 bilhão em todo o mundo, enquanto "Os Vingadores" chegou a US$ 1,5 bilhão em 2012;
2º lugar: "Meu Malvado Favorito 2", ficou com US$ 918,4 milhões, enquanto "Skyfall" passou de US$ 1,1 bilhão;
3º lugar: "Velozes & Furiosos 6" parou nos US$ 788,7 milhões, enquanto "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" superou US$ 1 bilhão em 2012;
4º lugar: "Universidade Monstros" arrecadou US$ 743,6 milhões, contra US$ 1,01 bilhão de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada";
5º lugar: "Jogos Vorazes: Em Chamas", ainda em exibição, já chegou a US$ 734,5 milhões, mas está longe dos US$ 877,2 milhões de "A Era do Gelo 4".
Apostas certas
Apesar do fracasso de "O Cavaleiro Solitário", a Disney foi o estúdio que se deu melhor em 2013. A casa do Mickey conseguiu bater seu próprio recorde, que era de US$ 3,6 bilhões, arrecadando US$ 3,8 bilhões em todo o mundo com produções como "O Homem de Ferro 3", "Universidade Monstros" e "Thor: O Mundo Sombrio". Com algumas exceções, a Disney apostou no caminho seguro, com sequências de franquias de sucesso e personagens já consolidados no universo pop, como os super-heróis da Marvel, um segmento que ainda representa poucos riscos.
Por outro lado, são evidentes os sinais de exaustão do modelo de blockbuster criado dentro de um formato e de regras que já deram certo no passado --muita ação, destruição e grandes estrelas; quanto mais, melhor (alguém pensou em "O Ataque"?)-- e que têm como objetivo iniciar novas franquias. Isso acabou abrindo portas para que produções consideradas independentes conseguissem resultados surpreendentes, como foi o caso do terror "Uma Noite de Crime", filmado por cerca de US$ 3 milhões e que chegou a US$ 89,3 milhões nas bilheterias.
"Invocação do Mal" também entra para a lista de produções pequenas que surpreenderam: rendeu mais de 15 vezes seu orçamento de US$ 20 milhões, com US$ 316,7 milhões de bilheterias em todo o mundo. Até a comédia "É o Fim", de Seth Rogen, surpreendeu, faturando US$ 125,7 milhões em todo o mundo em cima de seus custos de US$ 32 milhões.
Maiores bilheterias de 2013
1,2 bi
Homem de Ferro 3
(Disney)
918,4 mi
Meu Malvado Favorito 2
(Universal)
788,7 mi
Velozes & Furiosos 6
(Universal)
743,6 mi
Universidade Monstros
(Disney)
734,5 mi
Jogos Vorazes: Em Chamas
(Lionsgate)
Produções menores como "O Lugar Onde Tudo Termina" (com Ryan Gosling e Bradley Cooper), "O Verão da Minha Vida" (Steve Carell e Toni Collette), "Amor Bandido" (com Matthew McConaughey), "Como Não Perder Essa Mulher" (de Joseph Gordon-Levitt), "Blue Jasmine" (de Woody Allen) e "12 Anos de Escravidão" (de Steve McQueen) superaram os US$ 20 milhões nas bilheterias.
Lições
Há, sim, uma sensação de crise das grandes produções em Hollywood, mas as lições que serão tiradas dela ainda são incertas e devem demorar a ser sentidas, já que os maiores filmes começam a ser planejadas com dois anos de antecedência. E já sabemos que 2015 será um dos anos com o maior número de megaproduções já visto, quando chegarão "Star Wars: Episódio 7", "Os Vingadores 2" e "Batman vs. Superman".
A Sony, estúdio que mais sofreu com os fracassos em 2013 e único a anunciar mudanças, já avisou que pretende cortar US$ 250 milhões em custos até 2016. A economia deve vir de demissões e de parcerias internacionais, mas também de um aperto nos orçamentos dos filmes e de uma redução no número de lançamentos por ano. No próximo verão, a quantidade de lançamentos já vai cair de nove para quatro ("O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro", "Anjos da Lei 2", "Sex Tape" e "When the Game Stands Tall").
Ainda assim, a empresa continuará investindo no negócio seguro dos super-heróis, com pelo menos outros três filmes relacionados ao universo do Homem-Aranha nos próximos anos. As mudanças de diretrizes anunciadas pela Sony parecem sinalizar que os estúdios devem concentrar seus esforços em um número menor de blockbusters seguros em vez de apostar em produções menores e mais autorais.
Como disse o cineasta Brad Bird em agosto, a lição que Hollywood deveria tirar deste ano é que bons filmes são bem-sucedidos. Mas a mensagem que os executivos parecem estar recebendo é: filmes originais fracassam.
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