Filme não autorizado sobre Yves Saint Laurent traz cenas de orgia e drogas
Morto há seis anos, o estilista francês Yves Saint Laurent voltou à moda. Depois do filme sobre sua vida que está em cartaz em São Paulo, uma segunda cinebiografia entrou na competição de Cannes.
“Saint Laurent”, de Bertrand Bonello, é bem mais rock’n’roll que a primeira. O filme manda ver nas cenas de uso de drogas pelo estilista, vivido por Gaspard Ulliel (de “Hannibal – A Origem do Mal”), com seu maior amante, Jacques (Louis Garrel, de “Canções de Amor”).
Numa cena, que causou comoção na plateia, o cãozinho de estimação do estilista come todos os remédios largados no chão e morre de overdose. As cenas de drogas são bem mais fortes que as (poucas) cenas de sexo.
O filme se concentra em uma década, de 1967 a 1976, quando Saint Laurent abandona a Maison Dior para fundar sua própria casa de costura com o amigo e sócio Pierre Berger. “Saint Laurent” não poupa sequências com as modelos desfilando suas belas criações, e termina com o desfile de 1976, aquele que o próprio Yves considerava o seu mais inspirado.
Mas Bonello consegue ir além da simples biopic para elaborar um filme delirante, em que as aflições e fragilidades do artista conduzem o ritmo da narrativa. Há momentos quase hipnóticos, envoltos num clima surrealista, que lembram seu filme anterior, “Os Amores da Casa de Tolerância”. Ao final, entra um Saint Laurent mais velho e decadente, vivido à perfeição pelo austríaco Helmut Berger, ator dos filmes de Luchino Visconti.
Os dois filmes sobre Saint Laurent tiveram caminhos bem diversos. Bonello começou antes seu projeto, mas o outro diretor, Jalil Lespert, correu na frente e conseguiu a bênção de Berger, cofundador da Maison Saint Laurent. Depois, Berger deu várias declarações condenando este segundo filme, que foi feito sem autorização de amigos ou parentes. “Mas por um lado isso foi bom, porque nos liberou da obrigação de fazer uma biopic tradicional”, disse o produtor Eric Altmayer.
“Não faço comparações porque não vi o outro filme, me concentrei no meu projeto. Tomamos a liberdade de fazer o filme que quisemos. Para ser livres, precisamos trabalhar no nosso canto”, disse Bonello. “Essa década parecia a mais rica e apaixonante de sua vida, tanto em termos de moda como de vida. É um filme que vai do documentário à ópera”.
Ulliel, que também está excelente como Saint Laurent jovem, ao mesmo tempo genial e frágil, contou que só conheceu Louis Garrel no momento das filmagens, e revelou que a cena de sexo entre eles era a única que não estava no roteiro. “Uma espécie de graça surgiu entre a gente desde a primeira cena. Mas essas cenas são totalmente envolvidas pelo trabalho, não têm nada de realidade”, defendeu.
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