Documentário de Wim Wenders sobre Sebastião Salgado é ovacionado em Cannes
O Brasil não emplacou nenhum longa-metragem nas três seções do Festival de Cannes, mas um brasileiro (que nem estava presente) ganhou um dos maiores aplausos até agora no evento. “O Sal da Terra”, documentário sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, foi aplaudido de pé por cinco minutos ao final de sua única sessão. O filme é dirigido pelo alemão Wim Wenders (“Pina”) e pelo filho de Sebastião, Juliano Ribeiro Salgado, que estavam presentes.
Em “O Sal da Terra”, o próprio Salgado vai contando as histórias por trás de suas fotos mais emblemáticas, começando pelas impressionantes fotos feitas em Serra Pelada nos anos 80 (“era como seu eu tivesse vendo toda a história da humanidade, a construção das pirâmides no Egito. Não se ouvia o barulho de uma única máquina”). Wenders e Juliano narram alguns trechos, mas falam bem menos que o próprio fotógrafo.
Os momentos mais emocionantes são as sequências de fotos feitas para o projeto “Êxodos”, em que Salgado retratou centenas de adultos e crianças morrendo de fome em países como Mali e Uganda entre 1994 e 2000. Igualmente impressionantes são as imagens de crianças veladas de olhos abertos durante a seca no Nordeste, “porque os sertanejos acreditam que, se a criança morreu sem ser batizada, precisa manter os olhos abertos para encontrar seu caminho até o céu”.
As imagens de fome e seca são equilibradas ao final pelas deslumbrantes fotos de outro projeto, “Terra”, em que retratou ecossistemas pouco explorados pelo homem nos quatro cantos do planeta. O projeto começou por Galápagos, onde Darwin desenvolveu sua teoria da evolução em 1835. Ao mostrar uma das fotos mais marcantes do projeto, a de uma tartaruga centenária, Salgado comenta: “essa tartaruga já era adulta quando Darwin esteve nestas ilhas. Ele pode ter estado com ela, quem sabe”.
No documentário, Wenders conta que conheceu o trabalho de Salgado há 25 anos, quando, ao visitar uma galeria, se emocionou com a imagem de uma mulher cega feita por Salgado para um dos seus primeiros projetos, “Trabalhadores”. “Desde então eu me tornei um admirador incondicional do seu trabalho, mas só vim a conhecê-lo pessoalmente há seis anos”, conta.
“Um dia, ele me perguntou se eu gostaria de acompanhar a ele e Juliano numa viagem sem objetivo preciso que eles tinham iniciado, e para qual eles perceberam que precisavam de um outro ponto de vista, de um estrangeiro”, relata.
O resultado é uma viagem emocionante pela obra de Salgado, tão encantadora quanto a homenagem à dançarina alemã Pina Bausch feita em “Pina” (2011).
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