São aqueles filmes independentes ou oriundos de países com pouca tradição cinematográfica que estouram primeiro nos festivais ao redor do mundo e depois chegam até a apreciação do público pela insistência ou até a ignorância de pequenos distribuidores locais. Este ano, chegaram ao circuito de arte muitos exemplares dessa categoria, entre os quais "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias", da Romênia, premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2007. Ou ainda o tragicômico "A Família Savage", com Phillip Seymour Hoffman e Laura Linney. Sem falar no contundente "Lemon Tree", do cineasta israelense Eran Riklis.
A direção econômica de Julian Schnabel e a soberba interpretação de Mathieu Amalric transformaram "O Escafandro e a Borboleta" em um cult instantâneo. No filme, Amalric encarna o jornalista francês Jean-Dominique Bauby, editor da revista feminina de moda e comportamento "Elle". Em 1995, Bauby sofreu um derrame que lhe causou uma condição rara: o travamento completo do corpo, a não ser pela pálpebra direita. Com a ajuda de um código complexo, ele conseguiu editar um livro sobre essa experiência permanente e curta. Bauby morreu pouco tempo depois do livro pronto.
Cristian Mungiu faz parte da geração que testemunhou a transição entre a ditadura totalitarista e a democracia na Romênia. "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" expõe algumas das histórias que testemunhou ou ouviu. E o modo como reproduz no filme impressiona pela economia de meios, pela beleza das imagens e pelo empenho das duas intérpretes. Elas fazem os papéis de duas amigas que cruzam a capital para encontrar um aborteiro que as chantageia - naquele contexto, era crime grave a pratica do aborto.
O diretor turco radicado na França Abdel Kechiche volta ao tema das diferenças e da xenofobia na França, desta vez sob a perspectiva de um velho estivador árabe que é despedido do emprego. Para continuar trabalhando, ele decide abrir um restaurante especializado em cuscuz com a ajuda da ex-mulher, dos filhos, da enteada e de um grupo de amigos musicos. Kechiche não está interessado apenas nas intrigas familiares emvolvendo a ex-mulher e a atual amante, dona da pensão onde ele vive. O cineasta mostra como é possível para o ser humano se reinventar sempre, independente de sua condição de estrangeiro.
Vizinha do Ministro da Defesa de Israel, uma viúva palestina, interpretada com requinte por Hiam Abbass, decide processá-lo por cortar os limoeiros do terreno de sua casa. A justificativa dada pelo governo é de que se trata de Segurança Nacional. O cineasta israelense Eran Riklis poderia se concentrar apenas nessa trama com ares de picuinha, mas vai muito além disso. Na verdade, a questão que surge dessa rusga que extrapola questões de vizinhança reverbera tanto nas relações pessoais da palestina quanto no quintal de seu ilustre vizinho israelense. Um filme para se ver e rever com atenção.
A cineasta americana Tamara Jenkins conta que "A Família Savage" nasceu de experiências pessoais no cuidado de familiares com problemas de saúde e da observação de uma casa de repouso que ficava na esquina de sua casa. Com a ajuda de Philip Seymour Hoffman e Laura Lynney, a diretora constrói um belo conto sobre a família no contexto americano. Esse detalhe é importante, já que o filme fala de abandono, redenção e compaixão - valores que parecem caminhar juntos na cultura dos Estados Unidos.