Quando as séries de filmes inspiradas em personagens de histórias em quadrinhos se esgotam e os produtores decidem juntar tudo numa coisa só; quando um ator que ficou famoso com alguns personagens e decide ressuscitá-los aos 60 anos; quando uma série de filmes de terror ultrapassa o quarto segmento, é porque há algo de errado. Assim como há algo de muito errado quando um diretor assume publicamente que o filme que acabou de dirigir é um lixo. Veja abaixo e não se surpreenda.
Como fez em 2006 com o lutador Rocky, que retomou pela sexta vez no filme "Rocky Balboa", Stallone tenta se reinventar, aos 61 anos, apelando para as suas criações mais famosas. (...) Depois do relativo sucesso de bilheteria de "Rocky Balboa", Stallone conseguiu financiamento para uma nova ressurreição, desta vez a de Rambo. Escreveu o roteiro a quatro mãos com Art Monterastelli ("Caçados") e também dirigiu o longa -- que promete ser o último da série. Mas o mundo precisa de um novo filme do Rambo? A Birmânia precisa dele? E, seguindo a cartilha do personagem, quem precisa de geopolítica? (Alysson Oliveira)
Décadas depois de estrearem no cinema com alguma dignidade, esses Alien e o Predador se juntam pela segunda vez no cinema, dando inacreditável continuidade a uma bobagem sem sentido e sem tamanho criada por executivos da indústria dos quadrinhos americana. Um dos filmes mais castigados do ano pelos críticos, que não estão completamente desprovidos de razão. Desta vez ambientada no Colorado, nos EUA, a aventura se inicia com o surgimento de um temido alien que se reproduziu no corpo de um predador morto. Com o retorno da ameaça, humanos e os monstruosos aliados predadores se unem numa batalha apavorante.
Quando o diretor declara publicamente que seu trabalho é "pura violência e estupidez", é porque há algo de muito errado. Foi o que disse o francês Mathieu Kassovitz de sua ficção científica futurista "Missão Babilônia". Na verdade, Kassovitz reagiu à interferência da 20th Century Fox, que teria modificado e comprometido sua interpretação distópica do futuro. No filme, Vin Diesel interpreta Toroop, mercenário banido dos Estados Unidos por atos de terrorismo e se exila na União Soviética. Nada faz muito sentido no filme, desde a escolha de Vin Diesel para o papel principal até a idéia de que pode haver um subtexto plausível para esse desastre. Kassovitz é diretor de "O Ódio" (1995), que prometia revelar um grande cineasta.
Em 2004, quando o primeiro "Jogos Mortais" foi lançado durante o Festival de Sundance, James Wan e Leigh Whannell, diretor e roteirista originais, diziam procurar novidades. Cansados de filmes "splatter" (termo usado para designar filmes que respingam sangue), como "Pânico" (1996) e "Eu Sei o que Vocês fizeram no Verão Passado" (1997), investiram numa idéia que consideravam "mais psicológica". O resultado é uma série extremamente violenta, que deu origem a uma nova geração de filmes de terror. O que importa nessas produções, - como "O Albergue" (2006) e "Turistas" (2006), para dar dois exemplos -, não é o suspense, mas os requintes de crueldade do assassinato. Quem tem estômago (e vontade) para ver uma jovem ser atirada em uma piscina de agulhas e "nadar" em busca de uma chave, ou cortar o próprio pé com um serrote cego, não vai se arrepender com a série. Quem é contra isso, apenas se surpreende com os impressionantes US$ 550 milhões arrecadados pelas produções. (Rodrigo Zavala)