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Do diretor de "Os Descendentes", "Nebraska" estreia em Cannes como forte candidato ao Oscar

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

23/05/2013 07h17

O americano Alexander Payne entrou com tudo nesta quinta-feira (23) na competição do Festival de Cannes. Dois anos depois de “Os Descendentes”, que ganhou o Globo de Ouro de melhor filme, ele volta com “Nebraska”, uma tocante história em preto-e-branco sobre Woody Grant, um senhor de idade que recebe uma daquelas cartas de promoção de revista dizendo que ganhou US$ 1 milhão. O velhinho acredita e insiste em viajar de Montana a Nebraska para pegar o dinheiro.

Mesmo sabendo que o pai está desiludido, um dos filhos topa levá-lo até lá. No caminho, Woody e toda a família param em sua cidade natal, visitando os parentes e velhos amigos. Todos acreditam que o velhinho realmente se tornou milionário e querem uma parte do dinheiro, começando uma pequena confusão. Um retrato ao mesmo tempo doce e amargo, engraçado e melancólico sobre a velhice e suas desilusões.

“Nebraska” parece o candidato perfeito para a Palma de Ouro: uma mistura sensível de drama e comédia com personagens muito humanos e atores em estado de graça. Deve levar um bom prêmio das mãos do júri de Steven Spielberg. Como estreia apenas em novembro nos EUA, também deve chegar com força no Oscar.

O pai da Laura
“É a história de um filho que quer dar alguma dignidade ao pai. Meus pais também já estão velhinhos, sinto isso com eles, e acho lindo quando um filho faz isso”, disse o diretor. “Recebi o roteiro nove anos atrás e me apaixonei, a história tem uma visão ao mesmo tempo engraçada e melancólica. É uma história tão modesta que merecia um visual despojado como o preto-e-branco. Mas sou só o diretor, é difícil pra mim dizer o que significa o filme. Terminei-o na última sexta-feira, ainda estou aprendendo com ele”, disse o diretor.

Woody é vivido por Bruce Dern, de 77 anos e mais de 120 filmes no currículo, hoje mais conhecido como o pai de Laura Dern (“Veludo Azul”) e por pequenos papéis como o velho Carrucan de “Django Livre”. Desde já, Bruce é o favorito ao Oscar de melhor ator em 2014 – com todo esse currículo, foi indicado apenas uma vez, por “Amargo Regresso” em 1979,mas não levou.

Entre os mestres
Laura veio a Cannes prestigiar o filme do pai e até se sentou no meio dos jornalistas na entrevista coletiva para acompanhar suas respostas.

Bruce brincou com o fato de que há 25 anos não vivia um protagonista nas telas. “Quando você trabalha com outro Bruce, o Willis, não tem como não se sentir coadjuvante”, disparou.

O ator levantou a bola de Payne ao colocá-lo no panteão dos grandes mestres com quem trabalhou. “Ao longo da minha carreira, trabalhei com seis gênios: Kazan, Hitchcock, Dalton Trumbo, Coppola, Tarantino e agora Alexander Payne”.

O diretor contou que recebeu o roteiro quando filmava “Sideways – Entre Umas e Outras”, mas na época estava “de saco cheio de filmar dentro de carros”

O diretor escolheu Bruce Dern por ele estar em um de seus filmes preferidos, o drama “Amargo Regresso” (1978). “A melhor coisa sobre Bruce é que ele é um grande ser humano. Qualquer um pode aprender a atuar, mas é o ser humano que faz o ator de destacar”.

Payne trabalha agora em um filme de ficção científica que deve ser rodado na Noruega. “Mas o roteiro está dando muito mais trabalho do que pensávamos, por isso ainda deve demorar um pouco”, falou.