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Polanski faz divertida exploração do masoquismo em "Venus in Fur"

Thiago Stivaletti

Do UOL, de Cannes (França)

25/05/2013 07h41

Roman Polanski surpreende mais uma vez. Seu novo filme, "Venus in Fur" ("La Venus a la Fourrure" ou "Vênus em Casaco de Pele", em tradução livre), foi o último exibido na competição de Cannes, que neste domingo (26) anuncia seus premiados. Depois de filmes em que parecia ter medo de arriscar, como "O Escritor Fantasma" e "Deus da Carnificina", "Venus in Fur" mostra mais ousadia. É seu primeiro filme rodado em francês, com apenas dois personagens e todo passado dentro de um teatro.

Uma atriz, Vanda (Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski), chega atrasada a um teatro para a audição de uma peça e encontra o diretor, Thomas (Mathieu Amalric), prestes a ir embora. A peça é "Venus in Fur", do austríaco Leopold Sacher-Masoch, a quem devemos o termo "masoquismo".

Na peça, um homem pede à mulher que ama para que o torne seu escravo e inflija a ele todas as torturas que quiser. Pouco a pouco, Vanda e Thomas começam a viver entre eles as perversões dos personagens. Depois de "Repulsa ao Sexo", Polanski bem que podia ter batizado seu último filme de "Atração pela Perversão".

Guerra dos sexos
Com seu jeito rabugento, o diretor fez os jornalistas gargalharem, pedindo a todo momento (em vão) que as perguntas não fossem só para ele. "Me deram esse texto há exatamente um ano, aqui em Cannes. Eu tinha esse sonho de fazer um filme só com dois atores. Meu primeiro longa, "A Faca na Água" (1962), tinha apenas três personagens. Meu maior desafio era não entendiar o espectador", contou.

Ao ser perguntado se teve que dominar os atores durante a filmagem, Polanski brincou: "Claro que sim. O filme é sobre dominação. Mas na maior parte do tempo eles gostavam. Pelo menos nunca reclamaram".

O diretor de "O Bebê de Rosemary" diz que a sátira dos sexos presente no texto o seduziu para o projeto. "Gosto muito dessa idéia do macho que é despedaçado ao longo da história. Tentar nivelar os sexos como se faz hoje em dia é algo idiota. É uma pena, oferecer flores a uma mulher tornou-se algo indecente. Isso é o resultado do marxismo e do progresso da medicina. A pílula ajudou a masculinizar a figura da mulher".

Sei que nada sei
Polanski é cético quando lhe perguntam se hoje em dia ainda se pode encontrar um roteiro tão genial quanto o de "Chinatown" (1974). "Tem sempre algo bom por aí. Mas se vai cruzar o meu caminho, não sei dizer".

O diretor se ressente do lado ruim que a fama lhe trouxe. "Venho ao Festival de Cannes desde que eu era estudante. Eu me divertia mais quando era um desconhecido, porque as pessoas não me incomodavam para pedir fotos, como alguns de vocês vão fazer assim que terminar esta coletiva".

E é humilde ao falar do próprio talento e lembrar a Palma de Ouro que ganhou em 2002 por "O Pianista". "Apresentei o filme em Cannes e voltei para Paris. No dia da premiação, meu produtor disse que eu devia voltar para cá. Achei muito estranho, porque já vivi o suficiente para saber que não sei dirigir um filme."