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Filme mexicano choca Cannes com violência contra cães e cena de tortura

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

15/05/2013 18h30

Primeiro filme da competição pela Palma de Ouro, o mexicano “Heli”, de Amat Escalante, chocou a plateia de Cannes nesta quarta (15) com cenas ultraviolentas.

O filme conta a trajetória do rapaz do título, que vê sua vida devastada depois que a irmã de apenas 12 anos se envolve com um soldado que tem conexão com o narcotráfico. O soldado esconde quilos de cocaína no tanque da casa de Heli. Quando este descobre, resolve se livrar da droga. Mas os traficantes decidem puni-los com violência, e a irmã fica desaparecida por dias.

O filme abre com a cena de um corpo sendo tirado de uma carreta e enforcado do alto de uma passarela. Em outro momento, Heli e o soldado são pendurados por um gancho e espancados com uma tábua. Um deles tem o pênis queimado – a sessão de tortura é observada por três crianças, parentes dos traficantes. Em outra, um cachorro é morto a balas. O cãozinho de estimação da menina é estrangulado na frente dela – momento que provocou um suspiro de terror na plateia. Alguns jornalistas chegaram a deixar a sessão.

Escalante justifica a violência que decidiu mostrar. “Quando filmo esses atos de violência, não estou tentando impressionar, e sim traduzir a tristeza desses atos. Quero que os mexicanos encarem de frente a realidade. Quando você pensa em acerto de contas entre gangues, sempre imagina um cara grandão com bigode e chapéu. Mas na verdade as gangues pagam crianças para fazer esse tipo de trabalho sujo.”

“Heli” é o único filme latino-americano na Competição principal deste ano em Cannes. Seu retrato duro da pobreza mexicana pode lembrar um pouco “Cidade de Deus”, mas faz um retrato ainda mais cru e realista da devastação social causada pelo tráfico. É um filme importante e corajoso, que representa bem o continente no festival e abriu muito bem a seleção.