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Delegado diz que filho é culpado por morte de cineasta Eduardo Coutinho

Do UOL, em São Paulo

02/02/2014 19h34

O diretor da Divisão de Homicídio do Estado do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior, disse que foi Daniel, filho do cineasta Eduardo Coutinho, quem matou o pai a facadas, na manhã deste domingo (2) no Rio. "Não há dúvidas de que Daniel é o culpado", disse o delegado em entrevista coletiva. "É a expressão genuína da palavra tragédia."

Daniel, de 41 anos, morava com os pais e foi preso em flagrante delito pela morte de Eduardo Coutinho, 80, e pela tentativa de matar a mãe, Maria Oliveira Coutinho, que está internada em estado grave. Ele será indiciado por homicídio doloso, mas um juiz decidirá quais medidas serão tomadas judicialmente, já que vizinhos alertaram que o filho teria um possível quadro de esquizofrenia.

Segundo o delegado, o crime aconteceu por volta das 11h deste domingo. O corpo de Coutinho foi encontrado na porta de um dos quartos do apartamento. A esposa do cineasta, que também foi ferida, teria tentado se esconder no banheiro e ligar para outro filho para pedir ajuda. Após cometer os crimes, Daniel também tentou se matar, conclui o delegado. 

O diretor da Divisão de Homicídio disse que Daniel usou duas facas de cozinha nos ataques e, logo após agredir os pais, bateu na porta de um de seus vizinhos e disse: "Eu libertei meu pai, tentei libertar a minha mãe e tentei me libertar". Os bombeiros foram chamados pelo porteiro do prédio e Daniel não demonstrou resistência com a chegada deles, abrindo a porta do apartamento, ainda segundo os policiais.

O filho de Coutinho, que está sob custódia da polícia, passou por uma cirurgia e ainda prestará depoimento. Maria Oliveira Coutinho segue internada em estado grave e, em caso de melhora, deve também falar com os policiais. Ela levou cinco facadas ao todo: duas nos seios e três no abdômen, e uma delas perfurou o fígado. A quantidade de perfurações no corpo de Coutinho ainda deve ser revelada pela perícia.

Foram ouvidas quatro testemunhas até o momento e outros moradores do prédio deverão prestar depoimento ainda nesta semana. 

Trajetória

Nascido em 11 de maio de 1933, em São Paulo, Eduardo Coutinho abandonou o curso de direito por uma carreira no entretenimento. Depois de estudar direção e montagem na França e voltar ao Brasil em 1960, Coutinho entrou em contato com o Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE.

No CPC, o cineasta começou a trabalhar no que seria considerado seu projeto mais importante: uma ficção baseada no assassinato do líder das Ligas Camponesas, João Pedro Teixeira, com elenco formado pelos próprios camponeses do Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. A produção de “Cabra Marcado para Morrer” teve que ser interrompida depois de duas semanas de filmagens, quando ocorreu o Golpe Militar de 1964 e parte da equipe foi presa sob acusações de comunismo.

O filme só seria completado em 1984, depois de Coutinho reencontrar negativos que haviam sido escondidos por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto como um documentário sobre o filme que não foi realizado e sobre os personagens reais que seriam os atores do primeiro projeto.

Entre 1966 e 1975, atuou principalmente como roteirista de produções como “A Falecida” (1965), “Garota de Ipanema” (1967) e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976). Em 1975, Coutinho passou a integrar a equipe do “Globo Repórter”, onde permaneceu até 1984.

Depois de “Cabra”, Coutinho se firmou como o principal documentarista do país, com filmes que privilegiavam pessoas comuns e as histórias que elas têm para contar, como “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004) e “Jogo de Cena” (2007). Seu último longa foi “As Canções”, de 2011.

Em 2013, ao completar 80 anos, Coutinho ganhou homenagem na Festa Literária Internacional de Parati e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que organizou uma retrospectiva completa de seus filmes e um livro reunindo textos de e sobre o cineasta.

Na ocasião, Coutinho afirmou ao UOL que o público foge de documentários. "Isso é trágico. Tem uma diferença entre ficção e documentário, e é apenas para a Ancine [Agência Nacional do Cinema]. Documentário é uma palavra maldita. Se o público cheirar documentário, ele foge. Só não foge quem não pode", afirmou.