Esquizofrenia pode inocentar assassino, diz advogado do caso Glauco
A morte do cineasta Eduardo Coutinho, assassinado a facadas pelo filho após um "surto psicótico" confirmado pela polícia, resvala em um caso semelhante ocorrido em 2010, quando o jovem Carlos Eduardo Sundfeld Nunes matou a tiros o cartunista Glauco e seu filho Raoni, em Osasco, na Grande São Paulo.
Assassino confesso, Carlos Eduardo foi considerado inimputável --quando é incapaz de responder pelos seus atos-- pela Justiça em 2011 ao ser diagnosticado com esquizofrenia. Ele ficou internado em uma clínica psiquiátrica de 2010 a outubro de 2013, quando a Justiça de Goiás decidiu que ele poderia deixar a clínica e prosseguir com o tratamento ambulatorial em casa.
"O Código Penal diz que, havendo uma suspeita de insanidade mental, deve ser realizada a perícia. Se houver um histórico de esquizofrenia, é elemento mais que suficiente para que o próprio Ministério Público se manifeste a respeito", disse ao UOL o advogado de Carlos Eduardo, Gustavo Henrique Badaró.
“Os peritos fazem um juízo retrospectivo. Então, quanto mais perto da data do fato, melhor e mais preciso ele é. E a esquizofrenia é uma das doenças que podem levar à imputabilidade."
Trajetória
Nascido em 11 de maio de 1933, em São Paulo, Eduardo Coutinho abandonou o curso de direito por uma carreira no entretenimento. Depois de estudar direção e montagem na França e voltar ao Brasil em 1960, Coutinho entrou em contato com o Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE.
No CPC, o cineasta começou a trabalhar no que seria considerado seu projeto mais importante: uma ficção baseada no assassinato do líder das Ligas Camponesas, João Pedro Teixeira, com elenco formado pelos próprios camponeses do Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. A produção de “Cabra Marcado para Morrer” teve que ser interrompida depois de duas semanas de filmagens, quando ocorreu o Golpe Militar de 1964 e parte da equipe foi presa sob acusações de comunismo.
O filme só seria completado em 1984, depois de Coutinho reencontrar negativos que haviam sido escondidos por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto como um documentário sobre o filme que não foi realizado e sobre os personagens reais que seriam os atores do primeiro projeto.
Entre 1966 e 1975, atuou principalmente como roteirista de produções como “A Falecida” (1965), “Garota de Ipanema” (1967) e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976). Em 1975, Coutinho passou a integrar a equipe do “Globo Repórter”, onde permaneceu até 1984.
Depois de “Cabra”, Coutinho se firmou como o principal documentarista do país, com filmes que privilegiavam pessoas comuns e as histórias que elas têm para contar, como “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004) e “Jogo de Cena” (2007). Seu último longa foi “As Canções”, de 2011.
Em 2013, ao completar 80 anos, Coutinho ganhou homenagem na Festa Literária Internacional de Parati e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que organizou uma retrospectiva completa de seus filmes e um livro reunindo textos de e sobre o cineasta.
Na ocasião, Coutinho afirmou ao UOL que o público foge de documentários. "Isso é trágico. Tem uma diferença entre ficção e documentário, e é apenas para a Ancine [Agência Nacional do Cinema]. Documentário é uma palavra maldita. Se o público cheirar documentário, ele foge. Só não foge quem não pode", afirmou.
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