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Filho de Eduardo Coutinho tem prisão preventiva decretada

Carla Neves

Do UOL, direto do Rio

03/02/2014 12h01Atualizada em 03/02/2014 13h57

Daniel Coutinho, filho do cineasta Eduardo Coutinho, apontado como responsável pela morte do diretor, teve sua prisão preventiva decretada no início da tarde desta segunda-feira (3) pela Justiça do Rio. A informação foi confirmada pelo diretor da Divisão de Homicídio do Estado do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior. "Diante de tudo que apuramos e tudo que chegou ao inquérito policial, Daniel é o autor dessa tragédia familiar", afirmou.

Daniel, de 41 anos, está internado no Hospital Miguel Couto, na Gávea, na Zona Sul do Rio, sob custódia da polícia. Ele foi preso em flagrante e deve responder pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio --por conta de sua mãe, Maria das Dores Coutinho, de 62 anos, que também está internada na UTI, no mesmo hospital, em estado grave. Segundo a assessoria do hospital, o quadro dela é estável. Ela levou cinco facadas ao todo: duas nos seios e três no abdômen, sendo que uma delas perfurou o fígado. 

Um policial formando em psicologia vai coletar o depoimento de Daniel no hospital. A polícia aguarda apenas o aval da equipe médica para a visita. "É um policial que tem técnica policial, mas que fez o curso psicologia", afirmou Júnior. Após atacar os pais, Daniel tentou se matar com duas perfurações. Seu estado de saúde é considerável estável.

Duas facas de cozinha, sujas de sangue, foram apreendidas no quarto do autor do crime. De acordo com a Polícia, após agredir os pais e tentar se matar, ele bateu na porta de um de seus vizinhos e disse: "Eu libertei meu pai, tentei libertar a minha mãe e a mim não estou conseguindo".

Segundo um vizinho, Daniel possui quadro de esquizofrenia. O diretor da Divisão de Homicídios confirmou que o filho do cineasta falava palavras desconexas ao ser preso. "Isso é um sinal de surto psicótico, mas quem vai poder dizer se ele tem qualquer tipo de problema mental é a perícia, e isso será feito em juízo". Os bombeiros que deram os primeiros socorros, após o chamado dos vizinhos, vão prestar depoimento à polícia nesta tarde. 

O corpo do cineasta Eduardo Coutinho é velado na manhã desta segunda-feira (3) no Cemitério São João Batista, na zona sul do Rio de Janeiro. A cerimônia foi aberta às 10h e o enterro está marcado para acontecer às 16h no mesmo local. 

Trajetória

Nascido em 11 de maio de 1933, em São Paulo, Eduardo Coutinho abandonou o curso de direito por uma carreira no entretenimento. Depois de estudar direção e montagem na França e voltar ao Brasil em 1960, Coutinho entrou em contato com o Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE.

No CPC, o cineasta começou a trabalhar no que seria considerado seu projeto mais importante: uma ficção baseada no assassinato do líder das Ligas Camponesas, João Pedro Teixeira, com elenco formado pelos próprios camponeses do Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. A produção de “Cabra Marcado para Morrer” teve que ser interrompida depois de duas semanas de filmagens, quando ocorreu o Golpe Militar de 1964 e parte da equipe foi presa sob acusações de comunismo.

O filme só seria completado em 1984, depois de Coutinho reencontrar negativos que haviam sido escondidos por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto como um documentário sobre o filme que não foi realizado e sobre os personagens reais que seriam os atores do primeiro projeto.

Entre 1966 e 1975, atuou principalmente como roteirista de produções como “A Falecida” (1965), “Garota de Ipanema” (1967) e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976). Em 1975, Coutinho passou a integrar a equipe do “Globo Repórter”, onde permaneceu até 1984.

Depois de “Cabra”, Coutinho se firmou como o principal documentarista do país, com filmes que privilegiavam pessoas comuns e as histórias que elas têm para contar, como “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004) e “Jogo de Cena” (2007). Seu último longa foi “As Canções”, de 2011.

Em 2013, ao completar 80 anos, Coutinho ganhou homenagem na Festa Literária Internacional de Parati e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que organizou uma retrospectiva completa de seus filmes e um livro reunindo textos de e sobre o cineasta.

Na ocasião, Coutinho afirmou ao UOL que o público foge de documentários. "Isso é trágico. Tem uma diferença entre ficção e documentário, e é apenas para a Ancine [Agência Nacional do Cinema]. Documentário é uma palavra maldita. Se o público cheirar documentário, ele foge. Só não foge quem não pode", afirmou.